segunda-feira, janeiro 17, 2005

Portugal incentiva mulheres a criar o seu próprio emprego

Aumentar a taxa de criação de novas empresas por mulheres é essencial para estimular a inovação e a criação de emprego nas nossas economias. Esta é uma das principais conclusões de um relatório da União Europeia, apresentado em finais de 2004, relativamente ao empreendedorismo feminino nos países membros da União.Ainda segundo este relatório, as mulheres criam, em geral, empresas de menor dimensão mas relativamente mais viáveis. No entanto, apesar de uma tendência crescente registada nos anos 90, a percentagem de empresárias na Europa continua baixa em relação aos empresários do sexo masculino.O débil enquadramento empresarial, a escolha de tipos e sectores empresariais, lacunas da informação, falta de contactos e de acesso à constituição de redes, discriminação e preconceitos sexuais, oferta fraca e inflexível de estruturas para o acolhimento de crianças e dificuldades na conciliação das obrigações empresariais e familiares estão na origem deste problema. De acordo com a União Europeia, é amplamente reconhecido que há grupos-alvo de empresários (como as mulheres, os jovens, as minorias étnicas) com necessidades específicas de apoio durante todo o ciclo de vida das empresas que criam. Entre eles, as empresárias constituem o maior grupo. A maioria dos países não tem adoptado medidas específicas para a promoção das empresárias. Portugal não é excepção.O Programa Operacional Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS), do Ministério da Segurança Social e do Emprego português, inclui a promoção da eficácia e da equidade das políticas de emprego e formação. Neste eixo foi introduzida uma medida para promover a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres e melhorar a participação das mulheres no mercado de trabalho. Esta medida inclui o «Apoio ao Empreendedorismo de Mulheres», um projecto que visa apoiar as actividades empresariais das mulheres.O «Apoio ao Empreendedorismo de Mulheres» fornece apoio financeiro em domínios como a formação, a consultoria, o arranque de empresas e ainda a constituição de redes de informação. As associações empresariais femininas e as agências de formação podem recorrer ao programa de acção e actuar como intermediárias no fornecimento dos serviços solicitados.Estes agentes empresariais devem auxiliar as potenciais mulheres empresárias a consolidar a sua ideia empresarial, bem como prestar formação personalizada e aconselhamento técnico. Estes agentes organizam sessões de formação complementares para mulheres, orientadas para o desenvolvimento de iniciativas empreendedoras, o reforço da autoconfiança e para o desenvolvimento de capacidades de liderança e de negociação.Um dos programas que arrancaram em 2004 no âmbito do POEFDS, promovidos pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), foi o Jovens Empresárias para Novas Empresas (JENE). Actualmente na sua primeira edição, este programa tem duas acções a decorrer no Porto (com 18 formandas cada), uma em Leiria, Gouveia, Condeixa e Coimbra (com 12 formandas em cada acção) e uma outra em Faro (9 formandas).Carlos Freitas, director da área de formação e ensino da ANJE, explica que este projecto aposta na diferenciação positiva das mulheres empreendedoras e na promoção da própria atitude empreendedora com vista à criação do próprio emprego ou ao desenvolvimento de projectos inovadores no seio da entidade empregadora. «No JENE as pessoas entram com vontade empreendedora e o objectivo é saírem com o projecto concretizado», explica Carlos Freitas. De facto, este projecto começa por uma fase de formação convencional, em sala de aula, mas pode acabar com a criação de uma empresa. Após a formação, as formandas apresentam uma ideia de negócio a um júri. Se esse júri considera que a ideia tem potencial e a formanda espírito empreendedor, a futura empresária vai ter ao seu dispor uma bolsa de consultores, podendo escolher aqueles que mais se adequam ao seu projecto para a ajudarem a elaborar o seu plano de negócios.Para a criação da empresa, o POEFDS contribui com 5 mil euros. Na fase seguinte, a ANJE ajuda na criação de uma rede entre as novas empresas, que visa a partilha da informação e o acesso a ferramentas de gestão. Carlos Freitas explica que, para já, estão apenas a terminar a primeira fase a da formação em sala de aula, pelo que ainda não foram criadas novas empresas. Já no fim do primeiro semestre deste ano, a ANJE conta arrancar com a segunda edição deste programa em todo o país, incluindo o Alentejo, zona que não foi incluída na primeira edição do programa.Este projecto da ANJE surge na sequência de um outro no âmbito do empreendedorismo feminino, o projecto PIAF - Pólo Promotor de Iniciativas de Acolhimento, Apoio e Formação de Jovens Mulheres, que deve arrancar ainda este mês. Um dos principais objectivos deste projecto é o fomento da actividade empresarial das jovens mulheres através da atenuação das dificuldades sociais (e familiares), que tradicionalmente as tem afastado da construção de carreiras profissionais de sucesso, nomeadamente através do acesso a lugares de chefia ou da própria função empresarial. Armindo Monteiro, presidente da ANJE, afirma que «há um défice de empreendedorismo feminino, devido essencialmente à opção da maternidade», e a ANJE quer mostrar, com o PIAF, que «é possível e viável conciliar a maternidade com ter um negócio próprio».Constituindo um investimento de cerca de um milhão de euros, o PIAF, situado no Porto, junto à sede da ANJE, inclui uma Incubadora de Empresas, um Centro de Formação, um Centro de Apoio ao Emprego, um Jardim de Infância e uma Cantina. A ideia, segundo Armindo Monteiro, «é facilitar o desenvolvimento dos projectos das futuras empresárias até estes terem asas para voar, ou seja, até poderem integrar o mercado».
in "Diário de Notícias", 17/01/2005
Mulheres Encaram Trabalho como "fonte de poder e de autonomia"

Lurdes, 35 anos, trabalha como copeira das três da tarde às 11 da noite. Esta mãe de cinco filhos entre os quatro e os 15 anos deita-se perto da uma da manhã e acorda bem cedo para deixar almoço e jantar preparados e pôr os miúdos na escola. Os seus dias são longos e Lurdes não esconde o cansaço. Mas nem pensar em deixar de trabalhar.
Diz que gosta de estar rodeada de colegas e da autonomia que o emprego lhe dá. "Sou senhora do dinheiro e de comprar o que quero quando posso." Esta é apenas uma das muitas histórias recolhidas pela socióloga Anália Torres numa série de entrevistas feitas a casais e que constam do livro recentemente publicado "Vida conjugal e trabalho - uma perspectiva sociológica" (da editora Celta).
A situação descrita remete para uma das conclusões que a investigadora destaca da sua pesquisa: trabalhar serve para pagar as contas, mas é mais do que isso, apesar de por vezes ainda se insistir na ideia de que, se pudessem, muitas mulheres regressariam a casa. "O trabalho é uma fonte de auto-estima, de valorização, de poder, de autonomia em relação aos maridos." E isto acontece em diferentes classes sociais.
Estatutos distintos
"Se seriam de esperar, em relação a certas categorias profissionais, interpretações do trabalho exterior que sublinhassem as dimensões libertadoras, individualizantes e autonomizantes dessa actividade, encontrar posições relativamente idênticas em sectores profissionais onde o trabalho é muito pouco qualificado constituiu, de certa forma, uma surpresa."
A imagem de mulher como "companheira, igual em direitos e deveres" é, de resto, sublinhada, ao longo das entrevistas (com eles e com elas), de forma muito mais nítida do que seria de esperar.
Em contrapartida, "tudo se passa como se fosse ainda preciso pagar o preço da maior autonomia conquistada através do exercício de uma profissão". Esse preço é o "sobretrabalho" que resulta de uma enorme desigualdade na divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres.
"Acho que as pessoas não têm a noção, mas entre 1981 e 2001 entraram no mercado de trabalho 870 mil mulheres e apenas cerca de 93 mil homens. Há quase tantas mulheres como homens no mercado. Mas este peso que elas têm não é ainda suficientemente valorizado", diz ao PÚBLICO Anália Torres.
A crescente actividade feminina também não teve correspondência numa equivalência de estatutos perante as empresas ("as mulheres são consideradas trabalhadoras com família, os homens são supostamente trabalhadores 'livres'"). E os salários são distintos. Em 1999, 61,4 por cento das trabalhadoras tinham rendimentos pessoais inferiores a 375 euros/mês, o mesmo acontecendo com apenas 26,4 por cento dos homens.
Mas os "constrangimentos de género não se fazem sentir da mesma forma em todos os contextos, nem em todos os momentos da vida conjugal".
José e Beatriz constituem um jovem casal com um filho de dois anos. Ele é licenciado em História, trabalha num museu, está totalmente empenhado, prepara-se para fazer um mestrado. Ela é uma professora cansada.
Beatriz vive uma situação contratual instável e desejava ter mais dinheiro para delegar tarefas numa empregada, mas também para poder estudar e "aprender mais coisas". Não será para já. Ele chega sempre mais tarde do que ela. Ela tem a criança para cuidar.
Jovens em "stand by"
"Eles na carreira, elas em 'stand by'", foi o título que Anália Torres escolheu para o capítulo que fala sobre jovens casais com formação universitária: "Tudo indica que na fase do ciclo de vida em que se encontram, com os filhos pequenos e os cônjuges em início de carreira, elas se retraem", como se sentissem que esse é o seu dever.
O facto de terem de se confrontar com esta necessidade de escolher entre maternidade e profissão pode acarretar, nalguns casos, o adiamento da maternidade. Países como a Noruega, que têm simultaneamente elevadas taxas de mães trabalhadoras e elevados índices de fecundidade, mostram, contudo, que esse conflito pode ser ultrapassado se se investir em políticas de conciliação, diz a socióloga.
Já a Espanha ou a Grécia, com menores percentagens de mães trabalhadoras, têm índices de fecundidade mais baixos. "Isto põe completamente em causa a ideia segundo a qual, para aumentar a população, as mulheres deveriam voltar para casa."

Investigadora analisou dados do Reino Unido e de Portugal e diz que essa é a maneira mais fácil de aliviar a pressão
Mostram os números que, no que diz respeito à relação entre vida profissional e familiar, as mulheres que trabalham em "part-time" revelam níveis de "stress" bastante mais baixos do que as que trabalham a tempo inteiro. É assim no Reino Unido, onde os empregos a tempo parcial se tornaram comuns - 34 por cento das britânicas que trabalham estão nesse regime, o mesmo acontecendo com apenas quatro por cento das portuguesas.
Será que as portuguesas - que ostentam níveis médios de "stress" na conciliação entre vida familiar e profissional significativamente superiores aos das britânicas - teriam a ganhar se aderissem mais ao sistema do tempo parcial? Ou o melhor mesmo é olhar para o que se passa dentro de casa? A questão foi levantada ontem, por Rosemary Crompton, da City University, em Londres, durante um seminário de apresentação dos resultados de um inquérito internacional sobre "Família e papéis de género", em Lisboa.
Crompton analisou as respostas dos inquiridos no Reino Unido e em Portugal e verificou que, somadas as horas de trabalho fora de casa com as que são gastas nas tarefas domésticas, as portuguesas têm uma carga horária muitíssimo superior à das britânicas.
A culpa é dos trabalhos de casa. Analisando apenas as mulheres casadas, com empregos a tempo inteiro, a disparidade é flagrante: em Portugal elas gastam 22,19 horas por semana nas tarefas domésticas; no Reino Unido fazem tudo em 10,61 horas. "E não creio que no Reino Unido as pessoas andem particularmente sujas", comentou a investigadora.
Os dados revelam que as portuguesas até recorrem mais à ajuda de terceiros (empregadas domésticas, por exemplo) e que num e noutro país os maridos ajudam sensivelmente o mesmo (gastando 6,4 horas por semana no Reino Unido e 5,8 em Portugal).
Resta a explicação de, possivelmente, os padrões de exigência no que diz respeito à limpeza da casa, da roupa, ou dos filhos serem muito mais elevados em Portugal. "Uma questão cultural", sugere.
Certo é que "a redução do horário laboral seria benéfica para as mulheres portuguesas". Mas, reconhece Crompton, o exemplo britânico mostra que o "part-time" está associado a redução de salários (e Portugal já tem salários médios bem mais baixos do que aquele país), menos possibilidade de promoção e até a um reforço das perspectivas mais conservadoras no que diz respeito aos papéis de homens e mulheres.
Por isso, Crompton conclui que a medida mais fácil "que poderia reduzir a pressão sentida pelas trabalhadoras portuguesas" parece mesmo ser "uma redução nas horas do trabalho doméstico".
in "Jornal Público", 15/01/2005

quinta-feira, janeiro 06, 2005

«Novas Políticas de Igualdade, Novas Políticas para as Famílias» em debate

O Departamento Federativo de Mulheres Socialistas de Santarém organizou, no passado dia 05 de Janeiro de 2005, um Encontro/Reflexão sobre a temática «Novas Políticas de Igualdade, Novas Políticas para as Famílias», com a intervenção do Grupo de Co-Educação da Escola Superior de Educação de Santarém.
O encontro teve lugar no Auditório da Casa do Brasil, em Santarém.