segunda-feira, janeiro 22, 2007

Votar SIM. Porquê?

O que será colocado a referendo no próximo dia 11 de Fevereiro é saber que resposta tem a sociedade para dar às cidadãs que optem pela Interrupção Voluntária da Gravidez. É tão-somente isto que está em discussão!
Sim, sou a favor da vida e Sim, sou contra o Aborto!
É por estas convicções que não consigo entender determinados argumentos, tais como ser possível colocar no “mesmo saco” impostos e Vida. Como se podem juntar argumentos de ordem ética com argumentos de carácter económico?
Como me podem dizer que até hoje nenhuma mulher foi condenada? Então e o processo de Aveiro, com toda a devassa de privacidade pela qual aquelas cidadãs passaram? Então de que serve ter uma Lei que não se cumpre? Até onde a sociedade, nomeadamente o Estado, deverá ir no seu papel regulador? Até ao mais íntimo da esfera privada?
Todos nós sabemos que Portugal é um dos países do Mundo que tem uma das maiores taxas de gravidez na adolescência, no entanto algumas das figuras públicas que defendem o NÃO opuseram-se à implementação da educação sexual nas escolas, bem como à venda livre de preservativos.
Com a actual Lei, vamos continuar a permitir que crianças tenham crianças? E que adiem ou esqueçam o seu projecto de vida por causa de uma gravidez não desejada ou pior ainda, que pratiquem uma interrupção de gravidez em condições desumanas, sem apoio de pessoal especializado e sem apoio psicológico? Quantos casos conhecemos bem perto de nós e até recentemente?
Por outro lado, que se saiba uma mulher não engravida sozinha, porque terá de ser ela sozinha a sentar-se no banco dos réus? Será que se os homens também fossem criminalizados a Lei já teria mudado?
Não é suportado por factos, o argumento de que em todos os Países da União Europeia que despenalizaram a Interrupção Voluntária da Gravidez, a prática da mesma tenha subido. Existe uma excepção, curiosamente a Espanha, talvez à custa das cidadãs Portuguesas que recorrem a clínicas espanholas. Certo é que uma clínica de Badajoz revelou há meses que no ano de 2005 atendeu 4000 cidadãs Portuguesas, revelador não é?
Um estudo realizado em Portugal pela Associação para o Planeamento da Família recentemente publicado mostra que o aborto é um problema que afecta muitas mulheres, independentemente da sua condição social, escolaridade e religião. Os dados são reveladores de um sofrimento humano, antes, durante e depois da realização do aborto e as mulheres enfrentam este problema sozinhas ou quase sozinhas.
Permitam-me destacar três das conclusões do estudo:
1. A grande maioria das mulheres inquiridas usa contracepção segura e eficaz e, por isso, está posta de parte a utilização do aborto como forma regular de controlo de fecundidade;
2. A grande maioria das mulheres abortou uma vez, confirmando-se aqui de novo, desfazendo-se assim a ideia de que o aborto é usado como método de contracepção, antes acontecendo de forma esporádica e pontual na vida de uma mulher;
3. Uma em cada cinco mulheres que abortaram estava a usar contracepção, o que contraria a ideia de que, hoje em dia, “só engravida quem quer”

Defendo a maternidade e paternidade consciente e desejada, as mulheres e os casais têm o direito de tomar decisões em contextos que vão afectar profundamente as suas vidas e o seu futuro.

O Parlamento Europeu recomenda que, a fim de salvaguardar a saúde reprodutiva e os direitos das mulheres, a interrupção voluntária da gravidez seja legal, segura e universalmente acessível.
Trata-se tão-somente do acesso aos cuidados de saúde preconizado na Constituição Portuguesa.
A interrupção voluntária da gravidez é praticamente legal em todo o mundo. No entanto as leis nacionais são significativamente mais restritivas nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos.
O desenvolvimento não deve ser mensurável apenas pelos indicadores económicos, mas também por maturidade democrática e cívica.
Independentemente das nossas convicções, do dia 11 de Fevereiro devemos mostrar a nossa maturidade, através do exercício do voto.
SIM, dia 11 de Fevereiro vou votar e vou votar pelo SIM!

A cidadã
Anabela Freitas

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